Existem muitas, e muitas também são as mulheres que as cultivam, sem pensar que com isso estão se prejudicando. Por exemplo, a mania de estar sempre comendo alguma coisa, como chocolate, um caramelo, um sorvete, como se vivesse eternamente com fome. Além de extremamente deselegante, dá a impressão de que não come o bastante em casa. Os homens detestam isso. Sem falar nas gordurinhas supérfluas que essa gulodice constate faz aparecer.
Outra mania prejudicial é aquela de falar alto, rir alto, esquecer quem está ao seu lado para dirigir-se ao público em volta. Esse público, geralmente, presta atenção, espantado e curioso, pensando intimamente coisas muito pouco abonadoras sobre a tagarela. Sem consciência disso, ela continua o seu “show”, alheia ao constrangimento do companheiro e risinho maldoso dos estranhos...Os homens costumam fugir apavorados desse tipo de mulher. Os homens são, quase sempre, mais discretos e têm horror ao espalhafato.
Ainda um defeito muito desagradável é a mania de ser vítima que têm algumas mulheres. Queixam-se dos filhos, do marido, dos parentes, do ar que respiram, do asfalto que pisam, do calor, do frio, de tudo. Só sabem queixar-se. Quando lhes acontece apanhar uma doença, entregam-se de corpo e alma. A doença, séria ou não, passa a ser a razão de sua vida, assunto de todas as horas.
Como centro do universo, ela, a vítima profissional, explora ao máximo qualquer dorzinha, qualquer mudança de temperatura, qualquer tonteira sem gravidade. Em pouco tempo, todo mundo detesta a sua companhia, não suporta mais as suas lamúrias. E entre esse todo mundo, estão, naturalmente, os homens, noivos, maridos ou simples conhecidos. Dos três tipos de manias que apontei, esta é a pior. O ar eternamente choroso torna feia a mulher, envelhece, cava sulcos na face, rouba o brilho dos olhos. Beleza é quase sinônimo de alegria e saúde. A mulher inteligente procura sempre aparentar uma e outra –pelo menos aparentar- para manter o cetro de mulher atraente.
Por favor, minhas amigas, se uma de vocês tem qualquer dessas manias, ou outras que não citei, livre-se delas, o mais breve possível! Controle o vício das guloseimas, a vaidade de chamar a atenção e o desejo de atrair a piedade alheia. Afinal, piedade é sentimento que humilha aquela a quem é dirigida.
(trecho retirado do livro “Correio feminino”, Clarice Lispector, Ed. Rocco).
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
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